sábado, 7 de setembro de 2013

Homem(nagem)

"Nunca Quis Acreditar que Aquela Farda Enrugada, Esfarrapada, Queimada e Encurtada era a Dele"

Talvez a imagem seja cruel... bem mais cruel é a realidade!

Este foi o momento em que me cruzo com a ambulância onde vinha o Toninho e o jipe onde vinha o Daniel e o Vítor. Foi o momento mais marcante deste verão... Atrás deles fui tentar ajudar... a guerra fazia vitimas. Estas foram vítimas inocentes de um terrorismo que roubou a juventude, a vida, a companhia, a presença de seres humanos que se destacam de uma sociedade anónima e invejosa, sem compaixão e sem respeito. Atacaram o nosso grupo. Sofremos baixas... Cada vez que morre um Bombeiro a sociedade fica mais pobre, as comunidades mais pequenas, as pessoas mais desprotegidas!

Hoje o Daniel partiu, nunca acreditei que seria esse o desfecho. Nunca quis acreditar que aquela farda enrugada, esfarrapada, queimada e encurtada era a dele. Rádio destruído, derretido ao peito não era bom sinal. Só quem o viu lutar nas ultimas horas, só quem ouviu as ultimas palavras antes de adormecer, só quem sentiu a aflição que ele passou e a força, e a valentia que manteve naquele plano duro, coberto com uma manta e embebido em soro, retorcendo-se no desconforto, na agonia desesperava uma ajuda, assim como todos à volta desesperávamos também... nunca acreditaria que a força iria esmorecer! As dores eram reais, consegui senti-las ao lado dele, ainda hoje parece que as sinto.

Foram momentos que custaram a passar e a acomodar na minha cabeça. Aos poucos começou a decair, mas nunca esqueceu a família. Pediu que não deixássemos que a família o visse assim, ele queria voltar, sem marcas, de roupa lavada e com um sorriso.

Nem no acidente quis acreditar... Um jovem que dedicou parte da sua vida a salvar, nem com um grupo tão grande de colegas, de enfermeiros, de médicos o conseguiram salvar... Sentimento de injustiça! Sentimento de impotência! Sentimento de raiva! Sentimento de incredibilidade! Estudante no Curso de Técnico de Defesa da Floresta Contra Incêndios, acreditou que conseguia bater o inimigo... Foi à falsa fé que foi apanhado, tenho a certeza! Mas acreditou na causa e na defesa do património florestal. E eu também acredito, e os que cá ficamos também acreditamos! E por isso continuaremos a defender as populações, lembrem-se estes de nós ou não. Defenderemos a floresta pois nós precisamos dela.

Protegeremos o ambiente, pois envolve o nosso habitat... Ainda mais acredito agora na causa comum que defendemos, e que muitos desvalorizam e não acreditam. Lembrar-nos-emos de ti sempre. Para mim, foste e és um herói revestido de altruísmo e imensa coragem, carregado de valores que muitos homens não atingem, de um sentimento profundo de solidariedade e disponibilidade que tão bem caracteriza o bom bombeiro português!

Agora chegou a tua hora de descanso... Descansa em Paz, e que Deus te acompanhe! Até já e um abraço, companheiro...

Paulo Ferro
BV Bragança
Colaborador do BPS
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