Raimundo Quintal: "Alertei para o que podia acontecer e chamaram-me inimigo da Madeira"
O conhecido geógrafo e investigador madeirense Raimundo Quintal, presidente da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e ex-vereador do Ambiente da câmara da cidade, afirma em entrevista ao Expresso que alertou várias vezes as autoridades, nos últimos anos, para o desastre que poderia ocorrer na ilha, mas chamaram-lhe "fundamentalista, radical e inimigo da Madeira".
Vídeo:
http://www.belacena.com/videos/view/17138
Fotos:
http://aeiou.expresso.pt/a-semana-negra-da-ilha-da-madeira=f567861
O que correu mal no ordenamento do território para acontecer a catástrofe na Madeira?
Em primeiro lugar é preciso dizer que, por muito bem ordenado que estivesse o território, com a gravidade do que ocorreu na manhã de 20 de Fevereiro e somando ao que vem a chover desde Dezembro, haveria sempre consequências, mortos e destruição. Disso não tenho dúvidas.
Mas a meu ver o que correu mal foi o facto de se ter acreditado, desde há muitos anos, que apenas com obras de construção civil se resolvem os problemas dos cursos de água. Não é verdade. Alguns casos poderiam ter-se evitado se dentro dos leitos das ribeiras não existissem britadeiras e materiais.
Pode dar alguns exemplos?
Olhe, no sítio da Meia Légua, na Ribeira Brava, há um estaleiro de uma conhecida empresa de construção civil com máquinas e muitos materiais para apoiar a Via Expresso, e tudo veio por ali abaixo até ao mar.
E numa das ribeiras que atravessa o Funchal, a Ribeira de Santa Luzia, há uma empresa no leito de cheia, a Brimade, com uma pedreira, uma britadeira e uma central de betão, e desde há muitos anos que se arrasta ali, extrai pedra da própria ribeira e deposita aí os materiais. Nos oito anos que estive na Câmara, por várias vezes a autuei, levei a tribunal porque não pagava e num dos julgamentos até solicitei que fossem ao terreno, mas infelizmente a juíza foi lá e arquivou o processo. E já estão a fazer agora uma nova central de betão! Não basta construir muralhas nas ribeiras
Mas era expectável o que se passou?
Era. Não basta fazer muralhas nas ribeiras. Não tenho dúvida que muitas das muralhas que foram feitas contribuíram para minimizar os efeitos das cheias. Mas ninguém me venha dizer que a cobertura do troço final da Ribeira de S. João, junto ao Centro Comercial do Dolce Vita, no Funchal, não tinha um erro grave.
Eu avisei antes e chamaram-me fundamentalista, radical, inimigo da Madeira. Infelizmente vi acontecer o que eu escrevi várias vezes em artigos e o que disse num programa na RDP Madeira, bem como na televisão a 28 de Outubro de 2007.
Outro exemplo: há dois anos houve uma derrocada na Ribeira dos Corridos que matou dois homens, que estavam no estaleiro de uma empresa. Um mês antes eu tinha chamado a atenção para o problema num telejornal da RTP Madeira (a 28 de Outubro de 2007).
Na noite do acidente fui comentar à televisão o que tinha acontecido mas apontei outros casos, como uma enorme padaria (a maior da Madeira) que estava a ser construída no sítio da Fundôa, no Funchal, na vertente oriental da Ribeira de Santa Luzia, e disse que essa padaria estava numa zona de elevado risco, nunca devia ter sido autorizada, mas ainda estão a tempo de o impedir. Pois agora, com as chuvadas, houve uma enorme derrocada e uma parte da padaria desapareceu.
A sua experiência na Câmara do Funchal permite-lhe perceber melhor a enxurrada que varreu a ilha?
Quando se apontam os problemas antes de acontecer a desgraça dizem que há má vontade, que não se é amigo da Madeira. Mas eu estou muito à vontade, porque estive oito anos como vereador independente do Ambiente na Câmara do Funchal, e fui para lá pouco depois das cheias de 1993 (em Janeiro de 1994).
E sei bem o que foi preciso lutar para termos as ribeiras melhor geridas, e não apenas com obras de construção civil, mas iniciando os trabalhos de reflorestação e abrindo caminho para a própria autoregeneração da vegetação indígena.
Possivelmente, se isso não tivesse acontecido, hoje tínhamos consequências ainda mais graves. Não se pode dizer que isto é culpa de A, B ou C. Mas nem tudo o que se fez foi bem feito por quem tem responsabilidades nesta terra. Cometeram-se erros, também se fizeram coisas bem feitas, mas o que não foi bem feito não deve ser reconstruído.
Não posso admitir que venha dinheiro do Fundo de Solidariedade da União Europeia para voltar a fazer a rotunda em frente ao Centro Comercial Dolce Vita, no Funchal, para apoiar empresários com estaleiros dentro da ribeira.
Evitar zonas de risco
E então o que propõe?
Proponho que venha dinheiro do Fundo de Solidariedade para recuperar as veredas que vão permitir novamente o turismo de montanha, para recuperar as levadas, para recuperar acessos, para construir casas e haver coragem de dizer que não é possível construir mais em determinados sítios onde existem riscos de escorregamentos, ou que estão em leito de cheia.
A melhor estratégia para o grande trabalho de recuperação da Madeira seria aplicar a mesma metodologia que foi usada para os Açores aquando do sismo de 1 de Janeiro de 1980.
Neste caso, naturalmente, com a devida adaptação porque na altura não estávamos na União Europeia mas a recuperação levada a cabo foi exemplar, apesar de não haver muitos meios financeiros, e com uma enorme competência, com uma equipa multidisciplinar a trabalhar e liberta das colorações político-partidárias.
Como foi possível construir em leito de cheia e em locais de risco de derrocadas sem violar as directivas europeias?
Muitas das obras de canalização das ribeiras foram feitas em pleno Terceiro Quadro Comunitário de Apoio (com o apoio do Feder - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e ao abrigo dos programas de defesa do Ambiente. Algumas dessas obras foram bem feitas, foram importantes para defender localidades, tanto no Funchal como fora do Funchal.
Mas outras não. As obras foram autorizadas e financiadas e passaram no Tribunal de Contas e tudo foi feito de forma legal. Mas possivelmente o conceito de leito de cheia varia consoante os técnicos que dão os pareceres. E sabe bem que os estudos de impacto ambiental são encomendados pelos promotores das obras, é assim em todo o país...
O desastre da Madeira foi um fenómeno extremo relacionado com o aquecimento global?
Estamos integrados numa grande região mediterrânica que é caracterizada por estados do tempo que têm picos de secura intercalados com picos de precipitação no Outono e Inverno. O que aconteceu agora aconteceu em 1803 com muito maior violência. Isto é um fenómeno que ao longo da história da Madeira tem ocorrido.
Os estudos que eu conheço para esta área, incluindo os liderados pelo professor Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (o Projecto CLIMAAT), apontam para que neste século os períodos de secura sejam mais intensos e que estas chuvas violentas venham a acontecer em intervalos mais curtos.
O que aconteceu na Madeira está intimamente ligado às alterações climáticas?
Não gosto de especular. O que é verdade é que temos vindo a notar estes problemas e, por um lado, há a Natureza com extrema violência mas, por outro, há a arrogância de alguns pigmeus que sempre afirmaram que dominavam a Natureza.
UE devia arbitrar a reconstrução da ilha
Acha que as ajudas financeiras da União Europeia e da Administração Central serão bem aplicadas na reconstrução da Madeira?
Julgo que seria importante ter uma forma de intervenção diferente. Há que recuperar algumas estruturas, sobretudo viárias, muitas delas têm que ter o mesmo traçado, mas há situações em que voltar a construir no mesmo sítio é estar a deitar dinheiro pela ribeira a baixo.
A rotunda junto ao Dolce Vita do Funchal não pode jamais ser refeita da maneira como estava. É completamente errado voltar-se a cobrir um troço final da Ribeira de S. João com cerca de 200 metros. Não pode ser!
A União Europeia deveria ter uma participação externa de forma a arbitrar claramente estas situações. Se não, tenho muito receio que a actuação venha a ser profundamente condicionada pelas empresas de construção civil.
As empresas são necessárias neste momento, sem dúvida, e há a meu ver um trabalho extraordinário de colocar novamente a água debaixo das pontes. Há um efeito perverso de relançamento da economia com este desastre, porque o desemprego na construção civil vai baixar, mas é mais do que natural que assim seja.
Muitas das muralhas das ribeiras que foram feitas são importantes para protegerem as pessoas que vivem de um lado e do outro, mas há casos em que só há muralha numa margem e na outra não, é escarpada, e quando a enxurrada passou não encontrou resistência aí e houve desmoronamentos, o que mostra que a construção não foi feita da melhor maneira.
Deveria pensar-se num plano global moderno para o Funchal, adaptado à situação actual, do género do plano do brigadeiro Oudinot aplicado depois do desastre de 1803?
Os tempos hoje são outros. O brigadeiro Oudinot veio para a Madeira, orientou a canalização do troço final das ribeiras, as muralhas ainda aí estão, e na altura previa-se a construção da cidade nova na zona planáltica a leste da baixa do Funchal. Isso só aconteceu muito mais tarde, onde estão os hotéis, o casino, etc., mas não houve essa nova centralidade, como estava previsto. Era uma visão que apontava para uma maior fixação dos habitantes do Funchal fora das zonas de risco. Hoje a realidade é completamente diferente e não há hipótese nenhuma de aplicar essa ideia.
Frases Soltas:
Raimundo Quintal critica o facto de se ter acreditado durante muitos anos que os problemas relacionados com as ribeiras da Madeira se resolviam apenas com obras de construção civil
«Por muito bem ordenado que estivesse o território da Madeira, haveria sempre consequências, mortos e destruição com as chuvadas de 20 de Fevereiro»
«Sei bem o que foi preciso lutar para termos as ribeiras melhor geridas, e não apenas obras de construção civil, quando fui vereador da Câmara do Funchal»
«Há vários casos de destruição de casas, estradas e pontes em que voltar a construir no mesmo sítio é estar a deitar dinheiro pela ribeira a baixo»
«Não posso admitir que venha dinheiro da UE para reconstruir a rotunda em frente ao Dolce Vita, no Funchal, onde se tapou o troço final da Ribeira de S. João»
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Créditos: Virgílio Azevedo (www.expresso.pt)
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Ó Dor
Presinto no ar (mais) uma entrega avulsa
Heroína forte com sabor carnal...
Porque te vendes?.. ó mórbida curiosidade...!!
Tanto que és de fácil como de fatal....
Presinto no ar, triste adeus banal....
A que horas chegas..já não me faz mal!!
Heroína forte com sabor carnal...
Porque te vendes?.. ó mórbida curiosidade...!!
Tanto que és de fácil como de fatal....
Presinto no ar, triste adeus banal....
A que horas chegas..já não me faz mal!!
Já não me importo
Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.
Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei
Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.
E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.
--------------------------
Fernando Pessoa
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.
Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei
Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.
E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.
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Fernando Pessoa
Insónia
Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!
Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.
Alvaro de Campos
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!
Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.
Alvaro de Campos
A Minha Alma Partiu-se
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Partir....
Chegou o momento...
Chegou a hora... o dia...
Já larguei amarras....
abri as velas ao vento......
defini a rota, que não tem rumo
e, de leme bem seguro...
deixo parte da vida no cais que agora abandono...
Cais de sonhos, cais de esperança,
mas também..
cais de cansaço... cais de derrota...
Glória aos vencedores....
e.....
saía de cena... quem não é de cena!
Chegou a hora... o dia...
Já larguei amarras....
abri as velas ao vento......
defini a rota, que não tem rumo
e, de leme bem seguro...
deixo parte da vida no cais que agora abandono...
Cais de sonhos, cais de esperança,
mas também..
cais de cansaço... cais de derrota...
Glória aos vencedores....
e.....
saía de cena... quem não é de cena!
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
A Aprendizagem
Todo começo é involuntário
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
“Que farei com esta espada?”
Ergueste-a, e fez-se.
Fernando Pessoa, in Mensagem
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
“Que farei com esta espada?”
Ergueste-a, e fez-se.
Fernando Pessoa, in Mensagem
Cântico Negro
“ Vem por aqui”- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem :”vem por aqui”!
Eu olho-o com olhos lassos.
(...)
Não não vou por aí ! Só vou por onde me levam os meus próprios passos .
Se ao que busco saber nenhum de vós responde ,
Porque que me repetis: “ vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos ,
Redemoinhar aos ventos,
Como Farrapos , arrastar os pés sangrentos ,
A ir por aí...
(...)
Ah, Que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou .
É uma onda que se levantou .
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou
Não sei por onde vou
- sei que não vou por aí.”
---------------------------------------------
José Régio
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem :”vem por aqui”!
Eu olho-o com olhos lassos.
(...)
Não não vou por aí ! Só vou por onde me levam os meus próprios passos .
Se ao que busco saber nenhum de vós responde ,
Porque que me repetis: “ vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos ,
Redemoinhar aos ventos,
Como Farrapos , arrastar os pés sangrentos ,
A ir por aí...
(...)
Ah, Que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou .
É uma onda que se levantou .
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou
Não sei por onde vou
- sei que não vou por aí.”
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José Régio
Pega e leva-me....
E a noite mudou o dia..
e a chuva a solidão..
Só tu sabes o que eu não sei..
mesmo assim,
vem...!
Vem, pega e leva-me.....!
-------------------------
e a chuva a solidão..
Só tu sabes o que eu não sei..
mesmo assim,
vem...!
Vem, pega e leva-me.....!
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Sabe bem não estar sózinho....
Ser forte é tudo isto....
http://www.youtube.com/watch?v=8xmkKUPuGrY
Obrigado C2
----------------------------
http://www.youtube.com/watch?v=8xmkKUPuGrY
Obrigado C2
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Le retour au source
Hoje fui ver as estrelas de perto....
À muito tempo que não era tão ambicioso pois contentava-me com o bonito satélite da Terra. As estrelas assumiam um simples papel de guardiãs e nem mesmo quando formavam figuras mitológicas ou preenchiam o Zodíaco, lhes dava maior importância..
Hoje, em acto de contrição, fui expressamente admirá-las!
O problema é que quando se gosta de papoilas, as tulipas nem parecem flores....--------------------------------------------------------------------------------
Extracto
Hoje
dói a mente... estala a testa...
arrepio de mal-estar
nuca cansada.. frio sem rosto
sensação que é vazio
gota de gelo.. voz cansada.
Ái se eu pudesse
habitar a tua casa,
roubava rosa vermelha
sorriria a toda à gente.
Deixa(me) sossegar um pouco....
já vais, não te demoro,
deixa apenas aninhar.
dói a mente... estala a testa...
arrepio de mal-estar
nuca cansada.. frio sem rosto
sensação que é vazio
gota de gelo.. voz cansada.
Ái se eu pudesse
habitar a tua casa,
roubava rosa vermelha
sorriria a toda à gente.
Deixa(me) sossegar um pouco....
já vais, não te demoro,
deixa apenas aninhar.
Papy
Esta é uma noite para me lembrar
Que há qualquer coisa infinita como o firmamento
Um sorriso, um abraço
Que transcende o tempo
E ter medo como dantes
De acordar a meio da noite
A precisar de um regaço
-------------------------------
Créditos: MV
Que há qualquer coisa infinita como o firmamento
Um sorriso, um abraço
Que transcende o tempo
E ter medo como dantes
De acordar a meio da noite
A precisar de um regaço
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Créditos: MV
Se(m)ti
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo, tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
-------------------------------------------------------------------------
Créditos: FPessoa
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo, tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
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Créditos: FPessoa
Abraço bem conversado...
Haverá algo mais belo do que ter alguém com quem possa falar as suas coisas, como se falasse consigo mesmo???
Anónimo
Conversar é a essência do bom relacionamento... Abraçar é um puro e nobre acto de afectos....
Podemos comparar uma boa conversa com um bom abraço??
Podemos comparar o eco no falar com a segurança transmitida num abraço forte e consistente???
Será que ambos não nos transmitem empatia, tranquilidade, orientação e confiança??
Não serão fontes de sentimento???
Tal como um bom conselho, um abraço forte pode orientar no rumo a seguir....
Por vezes um abraço sentido é uma prova de confiança.... é uma partilha de esforços....
Por vezes é algo que tem que acontecer, pois já não sabemos onde colocar os braços...
É impulso desenhado..é força que tem que sair...
Não se abraça o vazio..abraça-se alguém....
É tal e qual como a conversa
é preciso mais alguém para acontecer...
Prescrever simultâneamente Conversa e Abraço, é a certeza de sucesso no combate ao monólogo e à solidão.
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Anónimo
Conversar é a essência do bom relacionamento... Abraçar é um puro e nobre acto de afectos....
Podemos comparar uma boa conversa com um bom abraço??
Podemos comparar o eco no falar com a segurança transmitida num abraço forte e consistente???
Será que ambos não nos transmitem empatia, tranquilidade, orientação e confiança??
Não serão fontes de sentimento???
Tal como um bom conselho, um abraço forte pode orientar no rumo a seguir....
Por vezes um abraço sentido é uma prova de confiança.... é uma partilha de esforços....
Por vezes é algo que tem que acontecer, pois já não sabemos onde colocar os braços...
É impulso desenhado..é força que tem que sair...
Não se abraça o vazio..abraça-se alguém....
É tal e qual como a conversa
é preciso mais alguém para acontecer...
Prescrever simultâneamente Conversa e Abraço, é a certeza de sucesso no combate ao monólogo e à solidão.
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"E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. "
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Créditos: FPessoa
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Créditos: FPessoa
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
grande Pessoa....
O meu olhar é nítido como um girassol.
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
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ALBERTO CAEIRO
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
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ALBERTO CAEIRO
Amigos.....nunca são demais
"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo"
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Créditos: Vinícius de Moraes
chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo"
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Créditos: Vinícius de Moraes
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Sopro de vida
Hoje, como nunca, recordo Alice das maravilhas...
Hoje, como nunca, os cogumelos me farão crescer...
Hoje, como nunca, não vou p'ra casa por a não a ter....
Hoje, como nunca, sou sem-abrigo, por não ter quem proteger....
Hoje, como nunca, suplico abraço.... respiro cólo
Hoje, como nunca, decreto a vida no teu olhar...
sei como ele é, como o recordo, doce paixão...
por ele anseio, como um desejo, libertação!
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Hoje, como nunca, os cogumelos me farão crescer...
Hoje, como nunca, não vou p'ra casa por a não a ter....
Hoje, como nunca, sou sem-abrigo, por não ter quem proteger....
Hoje, como nunca, suplico abraço.... respiro cólo
Hoje, como nunca, decreto a vida no teu olhar...
sei como ele é, como o recordo, doce paixão...
por ele anseio, como um desejo, libertação!
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Frases com sentidos..
"Evitar a felicidade com medo que ela acabe é o melhor caminho para se tornar infeliz."
Albert Einstein
"Quando se busca o cume da montanha, não se dá importância às pedras do caminho."
Provébio Oriental
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Créditos: Perfil CC
Albert Einstein
"Quando se busca o cume da montanha, não se dá importância às pedras do caminho."
Provébio Oriental
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Créditos: Perfil CC
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Balança.... e por vezes cai!!
Do signo Balança escreve-se cada coisa.....
"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
(Eleanor Roosevelt)
....e dos que não têm medo de ir em frente, tentar e vencer!
Vale a pena acreditar?????
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Créditos: Mail CC
"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
(Eleanor Roosevelt)
....e dos que não têm medo de ir em frente, tentar e vencer!
Vale a pena acreditar?????
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Créditos: Mail CC
Réquiem à despedida
Ser-se forte, mas para quê???
Se tudo agora já é o nada…
Balouço sem criança a sorrir
Alpendre sem ancião a recordar…
Quero cair de exaustão,
Quero cair sem regresso,
Quero partir sem saudade…
Quero partir sem voltar!!!
Os que ficam, esquecerão
Passagem fútil e sem razão
Grão de pó, doce maresia
Grita por mim, ó mundo surdo
Sou um troféu sem ser vitória
Sou sol perdido na primavera
Sou companhia que está ausente
Sou a nortada em noite fria!!!
Ó tempo já sem memória
Ó vento…. sopra com raiva
Faz tempestade com fogo
Queima a terra ontem sagrada
Fui tentação desejada
Fui promessa inacabada
Fui o sol, amei a lua
Fui tudo isto e agora nada!!!
Se tudo agora já é o nada…
Balouço sem criança a sorrir
Alpendre sem ancião a recordar…
Quero cair de exaustão,
Quero cair sem regresso,
Quero partir sem saudade…
Quero partir sem voltar!!!
Os que ficam, esquecerão
Passagem fútil e sem razão
Grão de pó, doce maresia
Grita por mim, ó mundo surdo
Sou um troféu sem ser vitória
Sou sol perdido na primavera
Sou companhia que está ausente
Sou a nortada em noite fria!!!
Ó tempo já sem memória
Ó vento…. sopra com raiva
Faz tempestade com fogo
Queima a terra ontem sagrada
Fui tentação desejada
Fui promessa inacabada
Fui o sol, amei a lua
Fui tudo isto e agora nada!!!
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