quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O velho e o jacarandá

"Apesar das minhas várias passagens por Trás os Montes, nunca tinha ido a Mogadouro.
Calhou desta vez.
Chegamos, eu e os meus companheiros de viagem, e o primeiro local eleito para visita foi o Castelo.
Como todos os castelos, também este está empoleirado a espreitar a cidade e os campos numa área considerável. Mas o que me chamou a atenção de imediato foi uma árvore, parece-me que a única, que me pareceu uma árvore africana, vinda sabe-se lá de onde ou em que circunstâncias.
Pareceu-me velha, como que já a fazer parte daquelas pedras, mas ainda assim, rala e seca, certamente devido às agruras dos invernos transmontanos.
De repente alguém atrás de mim me disse em português do Brasil:  
-Olha moça, quando eu nasci, já essa árvore tava aqui. Desse tamanho. É um velho jacarandá.
Olhei para trás e vi um velho, encarquilhado pela vida e pelo sol dos trópicos.
E ficamos ali a conversar como se fossemos amigos há muito. Contou-me que tinha ido para o Brasil há 46 anos e alguns detalhes de uma vida de sucesso profissional.
Mas do que ele queria falar era da infância, das brincadeiras ali junto aquela árvore. E eu fiquei ali a ouvi-lo, encantada, como ouvia as histórias da minha avó.
Fiquei a saber que vem todos os anos. Como  se assim voltasse à infância. De miséria mas de muita alegria.
Não pude ficar muito tempo, porque ainda tinha pela frente uma viagem longa.
No caminho até Almeida, pensei naquele homem e naquela árvore.
E no que ambos têm em comum. São velhos, altos e secos, muito para contar, e raízes no mesmo sítio.
Pois é (...) ....sou rica sim. Mas não de carros, casas ou bujigangas.
Sou rica de vivências. Algumas menos boas é certo. Mas outras, liiiiiindas, como esta.
 
Bjs
 
A árvore é esta e o homem o que está ao fundo a falar com a minha amiga."
 
 
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