sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Universal, mas com débitos vocabulares..

Dez palavras que fazem muita falta à língua inglesa


Um site americano compilou as dez palavras estrangeiras que fazem falta à língua inglesa. A primeira é bem portuguesa: desenrascanço. Mais do que uma palavra, é toda uma cultura.

"Dar uma de MacGyver". Quando pensam nessa arte de desencantar uma solução de última hora até para o problema mais previsível, os americanos lembram essa mítica personagem dos anos 1980/90, capaz de enfrentar o mundo com o seu canivete suíço.

Olhando para o dicionário, não encontram uma palavra que melhor defina essa habilidade de desafiar a preparação prévia. Mas se pudessem socorrer-se de outra língua, encontrá-la-iam no Português: desenrascanço. A capacidade de se desembaraçar, de se livrar de apuros. A arte da solução de último minuto. Mais que uma palavra, toda uma cultura.

Se os americanos pudessem escolher, o desenrascanço português seria a próxima palavra a entrar para o vocabulário da língua inglesa. Isso pelo menos a acreditar no site humorístico cracked.com , que compilou as "10 Palavras Estrangeiras Mais Fixes Que a Língua Inglesa Precisa".
A lista foi elaborada com base na leitura de algumas obras sobre as palavras mais intrigantes do planeta, incluindo "The Meaning of Tingo: And Other Extraordinaire Words From Around the World" ("O Significado de Tingo: E Outras Palavras Extraordinárias de Todo o Mundo", numa tradução literal), um livro inspirado talvez na excentricidade do nome do próprio autor: Adam Jacot de Boinod.

"Tingo", a palavra escolhida para o título, ocupa o 2.º lugar da lista do cracked.com. No idioma rapa nui da Ilha de Páscoa significa "pedir emprestados a um amigo todos os objectos que lhe cobiçamos até não lhe sobrar mais nenhum". Em português seria uma espécie de "dá-se-lhe uma mão, quer logo o braço". Um amigo da onça.

"Shlimazl" ou uma vida que dava um filme indiano

Outro hábito irritante é o de sermos interrompidos quando estamos a meio de uma refeição, seja pela empresa de sondagens que nos liga para o telemóvel, pelo vizinho que bate à porta para pedir algo emprestado ou pelo indiano que, no restaurante, insiste que compremos uma flor para a companhia de ocasião. Um hábito tão irritante merece uma palavra à altura e os escoceses não fizeram por menos: chamam-lhe "sgiomlaireachd" em gaélico escocês. Se os americanos não a conseguirem pronunciar (alguém conseguirá?) emprestamos-lhes o nosso "empata".

Claro que a maioria de nós, colocados perante uma destas situações, dificilmente verbalizaríamos essa palavra, fosse em português, inglês ou gaélico escocês. É o filtro do politicamente correcto. Os japoneses têm para isso duas palavras, "honne" e "tatemae", que representam a diferença entre aquilo em que realmente pensamos e aquilo que dizemos.

Lembram-se do famoso sketch dos Gato Fedorento em que o Sr. Aniceto, criado por Ricardo Araújo Pereira, conta um episódio da sua vida que dava um filme indiano? É a história de um homem que, após sair de casa de manhã, é raptado por quatro indivíduos encapuzados que o espancam numa mata, mais tarde violado por três lenhadores e depois por um urso, perde uma perna numa armadilha e, de regresso a casa, descobre que o "maricas" do filho se inscreveu nos escuteiros.

Uma sucessão épica de azares que a língua ídiche resume numa palavra: "shlimazl". Ocupa o 5.º lugar das palavras de língua estrangeira mais cobiçadas pelos americanos.

"Bakku-shan" ou a bela que afinal é um monstro

Esta sucessão épica de azares poderia incluir conhecer uma rapariga que, vista de costas, nos desperta todas as fantasias mas que, mal lhe conhecemos a cara, nos lembra um cruel pesadelo. Os japoneses chamam-lhe "Bakku-shan".

Claro que, mesmo nestes casos, aconselha a boa educação que não verbalizemos a nossa desilusão. Caso contrário, podemos ser acusados pelos coreanos de ter falta de "nunchi", ou seja, o sentido do socialmente correcto. Estaríamos então a meio caminho de nos tornar um "backpfeifengesicht", que na língua alemã significa alguém a precisar de levar um murro na cara.

Para quem recusa a violência, as palavras podem ser a melhor arma. Mas quantas vezes não tivemos a resposta pronta debaixo da língua para só nos lembramos dela quando o alvo já ia longe? Os franceses chamam a isso "espirit d'escalier".

Se acha que isso é mau, imagine estar perante alguém que o atrai e não ter coragem de lhe dizer? E imagine que do outro lado está alguém tímido e inseguro como você. Desejando-se mutuamente mas sem conseguirem arriscar. A isso se chama "mamihlapinatapai" na língua dos índios Yamana, da Terra do Fogo (Chile e Argentina).

A palavra é complexa e difícil de traduzir, mas é também, segundo o Livro de Recordes do Guiness, a palavra mais sucinta do mundo. Define "um olhar partilhado por duas pessoas em que ambas desejam que a outra inicie algo que ambos querem mas que nenhum quer começar". Falta-lhes...desenrascanço, é o que é.

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Créditos: Nelson Marques (www.expresso.pt)

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