quinta-feira, 1 de abril de 2010

Acetato de Eslicarbazepina

Primeiro medicamento português chega hoje às farmácias


Medicamento para epilepsia será comparticipado a 95%. Bial tem outros dois quase prontos

O primeiro medicamento desenvolvido em Portugal, um antiepiléptico, entra hoje no mercado nacional. Cinco meses depois de lançado na Alemanha, por força da demorada burocracia de aprovação de preço e comparticipação. É da Bial, que tem mais dois na manga.

Ao cabo de 16 anos e 300 milhões de euros, está nas farmácias o primeiro fármaco inteiramente português. Trata-se de acetato de eslicarbazepina, é um tratamento adjuvante de adultos com crises epilépticas parciais e é apenas uma das cerca de 11 mil moléculas sintetizadas pelos laboratórios Bial, uma empresa farmacêutica portuguesa. Dessas, apenas seis sobreviveram e o antiepiléptico é a primeira a chegar aos doentes de epilepsia.

Aprovada em Abril de 2009 pelas autoridades europeias, a substância, associada a terapêuticas anteriores, revelou uma eficácia superior aos medicamentos existentes. Eliminou crises em 11 a 18% dos doentes e reduziu-as noutros. O fármaco estreou-se para o público em geral na Alemanha, em Outubro passado. Hoje, já é vendido no Reino Unido, Dinamarca, Áustria, Noruega e Suécia. E será em breve lançado nos EUA e no Canadá.

Só chega agora às farmácias portuguesas. porque apenas há umas semanas viu aprovada a comparticipação pelo Estado. Com um preço de venda ao público de 234 euros (embalagem de 30 comprimidos), será custeado em 95% ou dispensado gratuitamente a pensionistas com rendimentos inferiores a 14 salários mínimos nacionais.

"É um dia de grande satisfação e de concretização de um sonho, porque o nosso lema é servir na saúde e estamos a fazê-lo com um projecto inovador, que vem resolver um problema de saúde pública", disse ao JN o presidente da Bial, Luís Portela. Em favor da substância que a empresa desenvolveu, aponta os resultados dos ensaios: revelou ser "o antiepiléptico mais potente, não tem efeitos secundários notáveis e tem uma maior comodidade posológica, com apenas uma toma diária".

O fármaco começará por servir como coadjuvante de terapêutica anteriores, mas, adianta Luís Portela, os ensaios actualmente a decorrer sobre o seu uso individual apresentam "bons resultados" e poderão alterar a posologia dentro de um ano.

O acetato de eslicarbazepina é produzido no Canadá, até se avaliar a quota de mercado que atingirá e se poder projectar uma unidade de produção em território nacional. As quotas conseguidas no estrangeiro ainda não estão apuradas, mas sabe-se que "as vendas estão a correr bem, com uma curva sobreponível à das vendas do líder do mercado quando foi lançado", adianta Portela.

A garantia do sucesso - que a Bial sabia não ter dimensão para conseguir isolada - é trazida pelos acordos de licenciamento com duas multinacionais (a Sepracor para a América do Norte e a Esai para 36 países europeus) para comercializar o fármaco fora de Portugal. Vigentes para dez anos, estes contratos garantirão à farmacêutica portuguesa "um encaixe de 200 milhões de euros". Ou seja, dois terços do investimento.

Recorde-se que a epilepsia é uma doença neurológica que afecta 40 a 70 em cada mil portugueses. Cerca de 40% dos doentes não consegue controlar as crises com os fármacos existentes.
---------------------------------------
Créditos: JN online

Sem comentários: