segunda-feira, 8 de março de 2010

Preso por ter lucros, preso por não ter!

PT, EDP, Jerónimo Martins, Cimpor. Quatro das maiores empresas portuguesas. Apresentaram resultados anuais nos últimos dois dias. Quase sete mil milhões de ganho operacional. E quase vergonha em mostrar tanto lucro. Porque poucos perceberão...

PT, EDP, Jerónimo Martins, Cimpor. Quatro das maiores empresas portuguesas. Apresentaram resultados anuais nos últimos dois dias. Quase sete mil milhões de ganho operacional. E quase vergonha em mostrar tanto lucro. Porque poucos perceberão porquê: é que estas empresas já não são portuguesas.

Portugal perdeu a última década de crescimento económico e ameaça perder a próxima. Quem quer crescer investe lá fora. Aquelas quatro empresas cotadas - como outras - têm hoje mais de metade da facturação fora de Portugal. E quase metade dos lucros.

Sim, quase sete mil milhões de euros de EBITDA conjunto parece ofensivo para um País gangrenado por um desemprego assustador, sem esperanças de crescimento, sob ameaça de radicalismo orçamental. Mas destes sete mil milhões, quase metade é dinheiro estrangeiro. São reais na PT e na Cimpor, dólares na EDP, zlotys na Jerónimo. E a lista alarga-se aos dólares na Portucel e na Altri, aos kwanzas no BPI. E quando olhamos para empresas que estão a valorizar em bolsa não à conta do negócio de hoje mas da expectativa do negócio de amanhã, são kwanzas da Zon ou petro-dólares da Galp que pesam.

Portugal sempre teve um problema de consciência com os lucros: como se fosse mal tê-los. Quando, há dias, a Caixa Geral de Depósitos apresentou os piores lucros dos últimos anos, revelou-os quase mostrando alívio. Como a Galp, que os viu cair para metade. A EDP, a campeã dos resultados líquidos (mais de mil milhões), repetiu ontem à exaustão que em Portugal os lucros não cresceram, só no estrangeiro. A própria Jerónimo Martins, que alcançou os maiores lucros da sua história (apesar da desvalorização do zloty, que lhe obliterou 10% da facturação), diluiu esse choque com um cheque de 12,5 milhões de euros em prémios aos trabalhadores.

Estas empresas já não são portuguesas, são multinacionais. Colheram os proveitos dos seus investimentos internacionais e de ultrapassarem o medo do risco. Como disse ontem Zeinal Bava na apresentação dos resultados da PT, a diversificação de negócios (e a internacionalização também é uma diversificação, mas geográfica) "é o único almoço grátis".

Este sucesso exterior tem como lado B a desolação que é o mercado português. Sem perspectivas de crescimento, logo, com pouco investimento (e PT e EDP estão até no topo das empresas que mais investem em Portugal). Logo, com pouca dinâmica de crescer e aumentar emprego.

Perguntem a um analista de bolsa em que empresas portuguesas se deve investir. Perguntaram há dois dias a João Pereira Leite, do Banco Carregosa.
Resposta: nas empresas que estão noutros países. Em Portugal não há mais lucro.

Muitas empresas já preferem pagar impostos noutros países, mudando sedes. A Jerónimo já o admitiu, a Mota já o ameaçou, a Sonae já o estudou, a EDP Renováveis já é uma empresa espanhola.

Os contribuintes têm menos dinheiro no bolso que queixas de empresas e bancos. Mas o definhamento do lucro em Portugal não é um acto de justiça social, é uma condenação do futuro. A saída para outros países está a ser a oportunidade, a aventura, mas também o escape. Haja lucro, concorrência, investimento, e haverá economia e emprego. Daqui toda a gente sai viva. O pior é quem fica.
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Créditos: Pedro Santos Guerreiro/Jornal de Negócios

1 comentário:

Acabem Com o Gamanço disse...

Acabem com o Gamanço!
www.gamanco.blogspot.com