terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cacos...


" Parece-me que todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralisias, porque já não ouvimos vivr nossos sentimentos que se nos tornaram estranhos; porque, num relance, todo sentimento familiar e habitual nos abandonou; porque nos encontramos no meio de uma transição onde não podemos permanecer.
Eis porque a tristeza também passa: a novidade em nós, o acréscimo, entrou em nosso coração, penetrou no seu mais íntimo recanto... Ficamos transformados.
...É preciso - e a nossa evolução, aos poucos, há de processar-se nesse sentido - que nada de estranho nos possa advir, senão o que nos pertence desde há muito. Há de se reconhecer, aos poucos, que aquilo a que chamamos de destino sai de dentro dos homens ao invés de entrar neles. Muitas pessoas não percebem o que delas saiu, porque não absorveram seu destino enquanto o viviam, nem o transformaram em si mesmas.
O futuro está firme, caríssimo, nós é que nos movimentamos no espaço infinito. Temos que aceitar nossa existência em toda plenitude possível; tudo, inclusive o inaudito, deve ficar possível dentro dela.
No fundo, só essa coragem nos é exigida: a de sermos corajosos em face do estranho, do maravilhoso e do inexplicável que se nos pode defrontar."

Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta, Ed. Globo, 2006.

Créditos: E Costa

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