sábado, 27 de junho de 2009

BERLENGA.. aqui tão perto!!

BERLENGA





Baptismos de mergulho na Berlenga

Cerca de cem estreantes na Berlenga
“É como se estivéssemos dentro de um aquário”, descreve José Parreira, 39 anos, no final do seu baptismo de mergulho, que teve como cenário as azuis e cristalinas águas da ilha da Berlenga.

António Monteiro, 49 anos, foi outro ‘caloiro’ que não podia ter aceite melhor desafio para a sua primeira experiência de contacto com o fascinante mundo subaquático. “Ver os peixinhos à nossa volta e a natureza debaixo de água é algo único e inesquecível”, comenta, ao mesmo tempo que garante ter reconhecido “dois polvos e um sargo” nos dez minutos que mergulhou a cinco metros de profundidade.
José e António foram dois dos cerca de cem estreantes que participaram na iniciativa “Sensações Subaquáticas”, organizada pela Associação de Operadores de Mergulho do Oeste e Município de Peniche, e inserida no Festival Sabores do Mar de Peniche.

A proposta era aliciante: Viajar na réplica de uma caravela dos Descobrimentos até à “ilha de sonho”, como é referenciada, e nas suas águas tranquilas e transparentes, abundantes em fauna e flora, bem como em destroços de barcos afundados, fazer o baptismo de mergulho.

As águas da Berlenga constituem um ‘oceanário’ selvagem, que só numa Reserva Natural protegida se pode encontrar. A vontade de mergulhar na Berlenga é alimentada por descrições de vários entusiastas e artigos publicados em revistas da especialidade, que dão conta de um local idílico e ponto de mergulho obrigatório. E como se não bastasse a aventura de uma primeira vez, nada como um cenário destes para tornar a experiência ainda mais memorável.

A data é 13 de Junho. O ponto de partida para a Berlenga é o cais de embarque de Peniche. Alguns mergulhadores seguem em semi-rígidos a alta velocidade em direcção à ilha, enquanto outros irão gastar mais de duas horas a lá chegar. Mas a demora compensa, porque as emoções começam logo pelo prazer de viajar na “Vera Cruz”, réplica aproximada de uma caravela dos Descobrimentos.

Foi construída por especialistas de construção naval em madeira, de acordo com o que se sabe das técnicas utilizadas no séc. XV. Tem quase 24 metros de comprimento e o mastro grande atinge 18 metros.

A brisa enche as velas e o barco avança. Lentamente. De vez em quando, um salpico de água salgada. Começa aqui a aventura. O barco inclina-se entre cada refrega e sofrem os ‘marinheiros’ que não aguentam o enjoo do balanço. A maioria sai incólume e chega à Berlenga cheia de vontade de mergulhar.

No final da experiência é altura de cada um contar a sua história. “É uma paisagem totalmente diferente da piscina e aqui vamos sempre com os olhos abertos porque levamos a máscara e a garrafa de oxigénio. Superou as minhas expectativas, porque debaixo da água do mar tudo é diferente e estamos noutra dimensão. Só pensamos em pesquisar”, relata António Monteiro.“Foi fascinante. Fiquei fã e vou fazer um curso de mergulho”, revela Lígia Ribeiro, 43 anos. “A água estava nítida e andei por meio dos peixes. Perdi completamente a noção do tempo e quando me fizeram sinal para subir senti pena”, conta, entusiasmada.
Ana Monteiro, 18 anos, também quer repetir a experiência. “Tornámo-nos peixinhos”, exclama. “É um mundo aparte. Lá em baixo não se pensa, simplesmente vive-se o momento”, manifesta.

O presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, ressalta um dos objectivos do evento: “Quem pratica mergulho é desde logo o primeiro defensor da fauna e flora subaquáticas, o que vem aumentar a consciência da necessidade de preservação da biodiversidade”.


Turismo de naufrágios

A hora é de regresso à caravela “Vera Cruz”, que vai transportar de volta a Peniche os mergulhadores estreantes. A bordo é assinado um protocolo de colaboração entre o Laboratório Nacional de Energia e Geologia e o Município de Peniche para, entre outras acções, tornar a Berlenga auto-sustentável do ponto de vista energético. O presidente da Câmara aproveita para anunciar que o Município de Peniche vai apresentar a candidatura da Berlenga a uma das “7 Maravilhas da Natureza de Portugal”. “Estamos conscientes da importância que a ilha da Berlenga assume em termos de património natural, histórico e arqueológico”, afirma António José Correia, que no último trimestre deste ano vai também candidatar a Berlenga a Reserva da Biosfera da UNESCO.

Depois dos anúncios, altura para Armando Ribeiro, especialista em mergulho, aguçar o apetite dos ‘caloiros’. “Há uma série de barcos naufragados à volta das Berlengas, como o ‘Agios Nikolaus’, que foi descoberto por mim e alguns amigos, com dicas de pescadores. É um cargueiro grego que naufragou na década de 60 do século passado e está a 66 metros de profundidade. Ou então o ‘SS Dago’, um cargueiro inglês afundado por um bombardeiro alemão, na década de 40, e que está a 50 metros debaixo do mar”, descreve.

“Há uma mística de ver o estado dos barcos”, reconhece, adiantando que “há outros barcos muito partidos e degradados entre 20 a 40 metros de profundidade”. No seu entender, “há um mercado potencial para o turismo, sobretudo de ingleses, suecos e dinamarqueses, mas é preciso descobrir mais coisas para cativar as pessoas”.

Francisco Gomes

À descoberta da ilha

Gruta na Berlenga
Após o mergulho é tempo de recuperar forças. Depois de uma caldeirada, há quem aproveite para descobrir os recantos da ilha, a pé ou de barco.

Mário Garcia é operador da embarcação “Pardela”, um dos vários barqueiros que efectua um circuito pela ilha, levando os visitantes às grutas, uma das quais navegável de uma ponta a outra. “Todas as partes da Berlenga são bonitas”, considera. Filho de um antigo pescador, conhece todos os cantos da ilha. “Estou cá quatro meses por ano mas conheço a Berlenga praticamente desde que nasci. O meu pai vivia aqui e também tinha este trabalho de guiar os turistas”, refere.

É com orgulho que conta a história de cada rochedo, como o que tem a forma de uma baleia ou da cabeça de um elefante. E na gruta azul partilha o segredo: “Ponham a mão dentro de água e vejam como fica azul. É um efeito de luminosidade”.Na Fortaleza de S. João Baptista, datada do séc. XVII, a Casa-Abrigo é explorada pela Associação Amigos das Berlengas. Entre 15 de Maio e 15 de Setembro está aberta e normalmente fica lotada em Julho e Agosto. Tem 23 quartos. Cada diária custa 12 euros. “Há pessoas que chegam aqui e ficam logo maravilhadas e outras pensavam que vinham para um hotel de cinco estrelas, só que temos algumas coisas primitivas, como ser necessário trazer roupa de cama e restrições de água e luz”, avança Nuno Costa, um dos encarregados.

Para além dos trilhos e caminhos marcados por entre a vegetação e a fauna, com predominância das gaivotas, outras atracções da ilha são o farol e a pequena praia, mas é no Bairro dos Pescadores que se encontram as histórias mais curiosas, como o chá para o enjoo da viagem de barco. Maria Otília é a autora do chá apresentado como ‘milagreiro’, mas que afinal não passa de um momento de boa disposição proporcionado aos mais indispostos, porque o termo onde supostamente leva o líquido, ao abrir mostra um pénis gigante. “Há pessoas que vêm tão mal-encaradas da viagem e matam-se a rir depois de lhes mostrar o ‘chá da Berlenga’. Ficam logo boas”, indica Maria Otília.

Mariete Soares, mãe do cantor Beto, é funcionária da Câmara e permanece dez meses na Berlenga, e só vai para Peniche em Dezembro e Janeiro. “Acabamos por ficar quase sozinhos quando acaba o Verão mas é uma ilha de sonho e é tão bom estar no meio da tranquilidade”, declara.José Rodrigo também ocupa uma das casas do bairro e adora o ambiente. Já a esposa não aguenta tanta acalmia. “Ao fim de dois dias de estar na Berlenga, diz que até lhe faz falta o cheiro do fumo dos carros”, confessa o marido, que não se farta de contar a história de quando as gaivotas o roubaram. “Tinha duas costeletas a grelhar e as gaivotas levaram”, assegura.

Créditos: Oeste Online, Net

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