VESTIR A CAMISOLA
NUNCA pesquei patavina de futebol e demorei mais de um ano a perceber o que é um fora de jogo, mas há uma regra de ouro que nunca me escapou da magia do astro rei: o espírito de equipa. Uma equipa é constituída por diferentes elementos com características próprias que os fazem exercer funções diferenciadas. E à parte dos jogadores superstar – Eusébio, Pelé, Figo ou Ronaldo – e dos seus talentos específicos, a verdade é que o espírito de equipa é que faz a vitória, e que, já agora, como também se diz sobre esta e outras modalidades desportivas, em equipa vencedora não se mexe.
UMA RELAÇÃO também pode – e deve – ser vista seguindo o espírito dumasiano de um por todos, todos por um, embora mandem as regras do bom senso que todos sejam apenas dois, e que outros elementos de equipa que a ela se juntem apareçam sob a forma de descendentes. Três foi a conta que Deus fez, mas não para casais, apesar do próprio Dumas também ter afirmado que o casamento é um fardo tão pesado que precisa de duas pessoas, por vezes três para carregá-lo.
A questão do número é, mesmo assim, menos basilar do que a do género, já que nas últimas décadas as grandes mudanças que se operaram na sociedade serviram para diluir o papel do homem e para fortalecer o papel da mulher enquanto indivíduos, o que resultou em algumas indefinições, ambiguidades e confusões para ambos os lados do campo de jogos.
O HOMEM ainda gosta de se sentir o provider, mas respira de alívio se a mulher também trouxer algum dinheiro para casa; e a mulher apregoa a sua independência alto e bom som mas, no fundo, gosta de ter alguém que a proteja e a apoie. E se qualquer um vai às reuniões da escola ou sabe mudar uma fralda, ainda são as mulheres que amamentam e ainda são os homens que vão para o jardim jogar à bola com filhos.
O ESPÍRITO de equipa é como tudo na vida, exige treino e concentração. É preciso ser humilde, bom ouvinte e ter capacidade para desenvolver empatia pelo outro. Perceber o que é importante para ele, o que o faz feliz e o que mais o incomoda, ao mesmo tempo que temos a obrigação de lhe transmitir o que é importante para nós. Tal como no ténis, há sempre uma rede pelo meio. É preciso deixar que o outro faça os seus serviços e marque alguns pontos, e depois trocar de lado no campo e fora dele, dar espaço e tempo e dar a mão à palmatória se for caso disso, sem nunca perder a mão nem a dignidade.
GOSTO de pensar que uma relação envolve mais amor do que poder, mais generosidade do que egoísmo, mais tempo do que dinheiro. Gosto de pensar que uma relação é como uma ponte: a pouco e pouco, os dois lados vão--se aproximando cada vez mais, até àquele momento mágico em que o tabuleiro se une no centro, entre os dois pilares. E, já agora, sem portagens nem cobranças em nenhuma das extremidades. Ou se veste a camisola para o bem e para o mal ou então o melhor é ir a nado.
Créditos: Margarida Rebelo Pinto Sol - net
quarta-feira, 24 de junho de 2009
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